REPORTAGEM ESPECIAL - TECNOLOGIA: O escândalo do Facebook: confira tudo o que você precisa saber

terça-feira, maio 08, 2018


Foto: Daniel LEAL-OLIVAS / AFP
O ano de 2018 não começou bem para a rede social com mais usuários no mundo, o Facebook. Em março deste ano o jornal americano The New York Times (NYT) publicou uma longa reportagem denunciando um esquema de vazamento de dados. As informações também foram denunciadas no jornal britânico The Guardian. Segundo o NYT, Christopher Wylie, um cientista da computação canadense, de 28 anos, teria revelado truques de como extrair informações de usuários da rede.

Wylie trabalhou em uma consultoria para a empresa britânica Cambridge Analytica durante a última eleição presidencial dos Estados Unidos. Em 2013, com os dados obtidos, Wylie, em parceria de um pesquisador da Universidade de Cambridge, Aleksandr Kogan, criaram um aplicativo chamado “thisisyourdigitallife”. A proposta seria oferecer previsões sobre sua personalidade com base nas respostas obtidas a partir de um quiz.

Para isso, o usuário precisaria realizar o log-in com sua conta do Facebook. Ao aceitar os termos de uso do app a pessoa liberava todos os dados, não somente os da sua conta, mas também os de seus amigos. O app recebia diversos dados pessoais, como seus interesses e dados mais elementares da conta, como e-mail ou data de nascimento.
Pode parecer coisa simples, mas com esses dados, era possível traçar um perfil do usuário e assim “selecionar” os conteúdos que essa pessoa iria consumir, logo induzir ou manipular o que ela pensa seria algo mais fácil.

Foram com esses dados que Donald Trump conseguiu se eleger – o que todos consideravam algo impossível – Presidente dos Estados Unidos. Em 2014 o Facebook consertou a brecha, porém já era tarde. Na época foi divulgado que 30 milhões de pessoas haviam sido lesadas, posteriormente o número aumentou para 87 milhões.

Processo
O presidente-executivo e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, foi convocado pelos comitês de Justiça, Comércio, Ciências e Transporte americano para esclarecer o que aconteceu, já que se ficou comprovado que por causa desse vazamento de dados, as últimas eleições foram de certa forma manipulada.

Nos dias 10 e 11 de abril de 2018, Zuckerberg participou de uma audiência no Senado dos EUA. "Chegou a hora de ouvir um alto executivo do Facebook com autoridade suficiente para explicar esse fracasso retumbante", disse Damien Collins, que preside o comitê parlamentar. O dono do Facebook teve que responder os questionamentos de 44 senadores durante uma sessão com dois intervalos.

Os parlamentares fizeram várias perguntas sobre os seguintes temas:
  • como o Facebook reagiu ao vazamento de dados pela Cambridge Analytica;
  • como o Facebook usa os dados de seus usuários para ganhar dinheiro;
  • como a rede social reage ao uso político da plataforma;
  • posição do Facebook sobre regulamentação de empresas de internet.


Durante seu depoimento Zuckerberg se enrolou e confundiu informações quando foi perguntado se a Cambridge Analytica havia sido banida, já que o Facebook soube desses vazamentos pouco tempo depois, em 2014 quando fez os consertos dos bugs da plataforma. Primeiro ele disse que sim e depois que não. Ele também se justificou, quando foi questionado porque a empresa não notificou os usuários "nós consideramos isso um caso encerrado", afirmou.

Vazamento de dados já era algo esperado
Em entrevista ao The Guardian, o ex-gerente de operações do Facebook Sandy Parakilas, de 38 anos, afirmou que a rede social não tinha nenhum controle sobre os dados dos usuários entregues aos desenvolvedores externos. Ele teria alertados os executivos sobre os riscos dessa falta de controle.

"Minhas preocupações eram de que todos os dados que deixavam os servidores do Facebook para desenvolvedores não podiam ser monitorados pelo Facebook, então não tínhamos ideia do que os desenvolvedores estavam fazendo com os dados", disse.]

Parkilas foi responsável do Facebook pelo monitoramento de violação de dados por terceiros durante 2011 e 2012, antes do vazamento que ocorreu em 2013. Atualmente ele trabalha como gerente de produto da Uber. O The Guardian pediu respostas a empresa, mas até agora nenhum representante do Facebook se pronunciou.

Processo no Brasil
De acordo com a denúncia pelo menos 443 mil usuários brasileiros foram vítimas dos vazamentos. Diante disso, no dia 20 de abril, uma entidade chamada SOS Consumidor, entrou com uma ação civil pública contra o FacebookA ação foi protocolada na 7ª Vara Cível de São Paulo e pede indenização por danos morais de R$10 milhões de reais. A petição inicial foi assinada pelo advogado Rizzatto Nunes, do escritório Velloza Advogados.
O Ministério da Justiça brasileiro já pediu satisfações a empresa para possivelmente instruir um processo administrativo contra o Facebook.

De acordo com a SOS Consumidores, a rede social se enquadra no Código de Defesa do Consumido, pois é considerada fornecedora de serviço. “A empresa presta, de forma contínua e remunerada, serviços via internet mediante o fornecimento de espaços em seus sistemas, com a finalidade de inserção de dados pessoais e dos comentários mais variados possíveis”, explica a SOS Consumidor.

A tese da entidade rebate a justificativa de que a rede social presta serviços gratuitos, já que hoje em dia é visível o faturamento financeiro por meio de propagandas e anúncios. “Com o incremento de usuários, os espaços foram invadidos pela publicidade e os provedores passaram a vender dados, informações e perfis comportamentais dos usuários". 

Segundo a ação dentre as várias violações cometidas, as principais são: atentado à privacidade, intimidade, honra e imagem dos cadastrados no site que tiveram seus dados expostos e utilizados para propósitos alheios às suas vontades.

O montante de R$10 milhões pedidos na ação se justifica, de acordo com a entidade, pelo faturamento “extraordinário” da empresa que, segundo o documento, está em torno de R$ 1,5 bilhões somente em relação aos usuários brasileiros. A indenização deve ir para o Fundo de Direitos Difusos, de acordo com a Lei de Ação Civil Pública.

Estou sendo vigiado?
Bem, se você é usuário do Google já notou que sempre que você procura algo na internet como produtos e viagens, todos os sites que você acessa após essa procura, te indicam coisas semelhantes. E isso não é coincidência. Assim como no Google, o Facebook pode mapear absolutamente tudo sobre você por meio dos seus dados de acesso.

Se usa você utiliza o sistema android tome cuidado, segundo a BBC de Londres, um programador neozelandês teria descoberto que o um site armazenava metadados de seu celular por pelo menos dois anos, números de telefone, nomes de seus contatos, mensagens de texto, além de horário e duração de cada chamada feita e recebida por ele durante dois anos.

Ainda segundo a BBC, um portal americano chamado “Ars Technica” também teria descoberto que o Messenger , aplicativo de mensagens do Facebook ou Facebook Lite, em celulares com sistema operacional Android, encontraram o mesmo tipo de dados em seus arquivos. Até mesmo o editor de Tecnologia da Informação do site, Sean Gallagher.
Confira na lista abaixo o que a plataforma sabe sobre você:
  • As coordenadas do seu rosto (pelas suas fotos);
  • Suas ligações telefônicas e mensagens de texto (se você tem android);
  • Por onde você anda – dentro e fora da internet (por meio do localizador do app);
  • Fotos que você 'esqueceu' no celular;
  • O que você 'gostaria' de comprar;
  • Todas as suas buscas.

Para o programador de sites, Robson Moura, 39 anos, as pessoas precisam dosar a quantidade de informações que dispõem em suas redes sócias. “O usuário precisa ter cuidado com quantas e quais informações ele disponibiliza em sua página. Redes sociais podem ser divertidas e boas para mantermos contatos com amigos e parentes, mas até que ponto vale expor todos os detalhes de sua vida? É preciso ter cuidado”, afirma.


Com informações da BBC, N YT e The Guardian.

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